Em notícia sobre Gogol, escreveu Merimée: “sou dos que apreciam demais os bandidos embora não deseje encontrá-los no meu caminho. A meu malgrado, a energia desses homens em luta contra uma sociedade inteira, arranca-me uma admiração de que me envergonho”.
Como ele, sempre tive grande admiração por esses indivíduos. Não falo dos burros, ignorantes, miseráveis, desesperados que assaltam ônibus, táxis ou velhinhos aposentados. Esses com suas vítimas, me inspiram piedade e são produtos do III mundo. Falo de homens que não aceitaram o contrato social ao qual foram condenados e que, embora em grande desvantagem.
Se admiro os bandidos corajosos na tradição de Robin Hood, François Villon, Raffles e Arséne Lupin, desde menino nutro o maior desprezo pelos bandidos ricos e covardes, os que roubam o povo; em síntese, os banqueiros. Lá em casa, nos anos quarenta, meu pai, meus dois irmãos e eu trabalhávamos para juntar dinheiro a fim de podermos comprar uma casa própria, sonho que só se realizou depois de vinte anos, quando eu já era jornalista. Todo fim de mês, via meu pai voltar triste, quase chorando do banco, pois os juros haviam aumentado e poupáramos muito menos do que havíamos imaginado.
No III Mundo e no Salve lindo em particular, os banqueiro não são considerados bandidos. Podemos vê - nos elegantes, bem falantes, simpáticos, sorridentes em qualquer reunião da alta sociedade e, entretanto, são os maiores bandidos do país. Esses marginais não marginalizados, depois de assegurarem vida mansíssima para os tetranetos que ainda não nasceram, declaram falência. Nessa ocasião, mediante propinas equivalentes a 500 anos de salário mínimo de um trabalhador, recebem dinheiro do Banco Central, o que nos transforma num povo inteiramente a mercê de bandidos. Como? Ora, além de roubarem diretamente o nosso dinheiro ainda o roubam indiretamente através do que o governo nos rouba nos impostos para dar a eles, que não pagam impostos. Coisa de bordel de luxo.
Abro as principais revistas do país e vejo páginas e mais páginas de propaganda informando o quanto os banqueiros nos querem bem e o quanto precisamos deles. No dia seguinte as mesmas revistas me informam que os mesmos banqueiros foram à falência, embora continuem sendo os homens mais ricos do país. E o mais incrível é que o dinheiro gasto com a publicidade também é nosso, sabia muito bem, como eu, a resposta. O homem que assalta, arrisca a vida; o homem que funda, rouba a vida de todos. Está aí O globo que não me deixa mentir: “Bancos são os maiores sonegadores do país.” Só no ano passado nos roubaram 2 Bilhões 400 milhões de reais. Não contentes com toda essa roubalheira, os bandidos descobriram que graças aos cheques pré-datados as pessoas não estão mais fazendo uso dos seus cartões de credito. Por isso, inconstitucionalmente, só nos venderão os talões (segundo Millor Fernandes, os livros mais caros do mundo: 4,50 reais), de dez cheques depois que todos tiveram batido no caixa. Bandidos, ladrões, sonegadores, estão todos em liberdade. Se eu não declarar o que recebi por esse artigo, logo a polícia virá me buscar. Calmons de Sá, Pintos, Fragas, Cros, Grossis, setúbais, Lópeis, Bozannos, parabéns.
Seria injusto se dissesse que jamais ganhei dinheiro com ladrões. Quando o senador Estevão foi cassado e em seguida preso, propus bolão aos companheiros de chope no bunda de fora: um litro de White Horse para quem acertasse quanto tempo ele ficaria na cadeia. Os bêbados ainda acreditam na Justiça. Escrevi 24 horas e ganhei. Metade dos bancários do país foi despedida e a outra metade não recebe aumento a cinco anos. Quer acabar com a violência? Prenda os banqueiros, mas isso, não pode, não é?
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