segunda-feira, 9 de julho de 2012

Texto fausto wolff – REVISTA BUNDAS N-78 – dez/2000.


Um humorista desconhecido disse que o Natal é a vingança de Cristo contra os que o crucificaram. Antes fosse. Os que pregaram o homem na cruz continuam faturando com a sua morte. É no período natalício que os veículos de comunicação em geral e a televisão em particular mais torturam este país. Um aluvião de bestas do apocalipse cai de uma só vez sobre a pobreza ignorante e a classe médias abobalhada: “Compre, compre, compre”. Milhões de crianças miseráveis querendo tênis Nike, bicicleta Calói, a boneca da Xuxa. Milhões de jovens alienados da classe média querendo automóveis, viagens, cartões de crédito e a pqp! Os ricos naturalmente estão cagando e andando para a tragédia anual. Sabem que em duas três décadas já não haverá mais consumidores; sabem que o Brasil se transformará numa grande favela onde ratos e miseráveis disputarão o lixo. Sabem também que seus filhos e netos estarão morando na Europa e nos Estados Unidos.

Sei da força do verbo, mas eu ODEIO o natal. Creio que só um homem odiaria mais do que eu: JC. Imagino sua reação ao descobrir que aqueles que há séculos dirigem a farsa do seu aniversário são os mesmos vendilhões que ele expulsou do templo. Os mesmos cujos bancos ele quebrou, obrigando a palavra bancarrota e dando início ao grande levante popular contra o imperialismo romano. Creio que vomitaria vendo Jader, FHC, ACM, Luiz Estevão e demais caricaturas humanas ajoelhados numa igreja fingindo-se cristãos para depois concordarem entre o Beluga e o Cristal: “O salário mínimo para 181 reais se não houver quebra de sigilo bancário”. Arrgh!

Ah, leitores, eu gostaria tanto de crer na história da adolescente bonita que acreditava trazer em seu ventre o rebento de Deus. Tão comovente a história do filho do carpinteiro que pregava o amor e a justiça. Sempre quis acreditar na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na vida eterna, mas assim como Cervantes em relação ao homem de La Mancha me limito a gostar do homem de Belém. Gosto porque era pobre, ofendido e maltratado como nós. Depois, desde os tempos de Adriano, os ricos descobriram que podiam fazer bom uso dele. Encheram-no de jóias, perfumaram-no trancaram-no num palácio longe do povo para melhor poderem explorar esse mesmo povo.

Jesus Nasceu da hostilidade inconsciente de um Deus-pai que só favorecia os exploradores. Com o Deus-fillho, homem, pobre e sofredor, eles podiam se identificar, Nessa irmandade cristã primitiva, a assistência econômica. O apoio mútuo, o comunismo, enfim, tinham lugar destacado. Quando a classe dominante descobriu as vantagens do Cristianismo, Jesus tornou-se sócio do mercado, participe dos lucros com máscara de Papai-Noel. Quando os desgraçados reclamavam, os políticos, sacerdotes e usuários lhes diziam: “Cristo que é Deus foi crucificado e vocês não querem sofrer um pouco aqui na terra, mesmo sabendo que terão a eternidade no céu?” Palavras do Papa Clemente I: Os pobres devem agradecer a Deus por ter lhes dado os ricos para ajudá-los nas necessidades “. Mateus dissera aos nababos pouco antes do século II: Os gritos dos camponeses chegaram aos ouvidos do senhor das Hostes. Vocês viveram no luxo e no prazer, engordaram com a mortandade. Chorai e lamentai, pois o juiz está de pé às vossas portas”.

Falta de tato a minha, não é mesmo? A verdade, porém, é que depois do quinto uísque a dor no estômago passou, mas continuo achando que os festejos de Natal, como vem sendo realizado ultimamente, são um insulto ao aniversariante, uma festa pagã e de mau gosto; um crime contra a inocência infantil: uma cerimônia em homenagem aos reis Lucro & Consumo & Corrupção que tomaram o lugar de Baltazar, Melchior e Gaspar.
Srs donos das pompas do mundo, e se fosse verdade, hein? Se essa bela história da Carochinha fosse verdade? Se, realmente, na hora do Juízo Final Deus decidir que os últimos serão os primeiros? Haverá um inferno suficientemente quente para vocês que maltrataram os fracos, os humildes os trabalhadores, e camponeses? Por via das dúvidas, eu começaria a lutar menos pelo poder e mais pela justiça social conforme os ensinamentos de Jesus. Mas para isso vocês teriam de se comportar como seres humanos.

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