segunda-feira, 3 de novembro de 2008

de tanto consumir,acabo me consumindo

A sociedade neoliberal, fundada na competitividade e no êxito egolátrico, favorece o desamor, pois instaura concorrência onde deveria haver solidariedade e, em se tratando de riquezas, aumenta a acumulação engendrando a exclusão. Na impossibilidade de mercantilizar o afeto, ela acena a libido.
Basta observar uma banca de revista, um programa humorístico na TV ou uma peça publicitária. -até para vender sabonete Ali a mulher é reduzida a seus contornos anatômicos, tão desnuda de roupas, quanto de princípios, idéias e valores. Mero objeto descartável, cujo realce promove uma deseducação do olhar, de tal modo que passa a ser vista como um atraente naco de carne exposto no açougue virtual.
Essa cultura da glamourização das formas, que enriquece as academias de ginástica e os cirurgiões plásticos que se prestam aos caprichos da vaidade, deteriora as relações de alteridade. Mulheres e homens que não correspondem ao modelitos imperantes são marginalizados, condenados a purgar seus complexos no limbo dos que não merecem afeto por não terem suficientes atrativos. Pedófilos, tarados, estupradores e assassinos de mulheres são regados pelo caldo de cultura dessa sociedade neoliberal que só reconhece os valores do mercado financeiro, pois troca o coração pelo bolso e suprime a ética em nome da estética. E o mais grave é que insistem em nos convencer que liberdade de expressão é a TV invadir os nossos lares, intoxicando, crianças com pornografia e violência

Um comentário:

Cida Cotrim disse...

LIVROS

Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.
Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura.
Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários,
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou ­ o que é muito pior ­ por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um:
Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras.
Tropeçavas nos astros desastrada
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.

Caetano Veloso

Ps: Como gostaria de amar livros
e textos enormes... não consigo!