segunda-feira, 3 de novembro de 2008

um pouco de História

Você se lembra dos quatro trabalhadores de Chicago, em 1886, que foram enforcados pela justiça norte-americana por que ousaram se mobilizar pela redução da jornada de trabalho? E que acabaram dando origem ao 1º de Maio, data, inclusive, que os EUA não comemora como Dia do Trabalhador até hoje? Você se lembra das centenas de mulheres operárias de uma fábrica também em Chicago, que, por ousar reivindicar melhores condições de trabalho foram trancadas pelos patrões dentro da fábrica, que atearam fogo, matando-as por queimaduras e intoxicação? E que deram origem ao 8 de Março, Dia das Mulheres? Você se lembra de Sacco e Vanzetti, os dois imigrantes anarquistas que foram condenados à morte acusados de roubarem e matarem, acusação que caiu por falta de provas, mas mesmo assim foram mortos, como exemplo de que não devemos lutar por nossos direitos, nem ser pobres, nem imigrantes, nem trabalhadores, nem devemos ser... O Outro? Pois fico pensando nisso tudo, e mais ainda nessa semana em que o Congresso está decidindo a "flexibilização" das leis trabalhistas... Fico lembrando desses trabalhadores que morreram reivindicando melhores condições de trabalho, e lembro também de todos os outros, e foram tantos que nem dá pra contar, que sofreram perseguições, que foram presos, deportados, que morreram massacrados, em greves, manifestações, paralisações, reivindicando cada pequeno direito que fomos acumulando ao longo desses mais de dois séculos desde a Revolução Industrial... Férias... Descanso semanal remunerado... 13º salário... Aposentadoria... Licença saúde... Licença gestante... E tantas outras conquistas conseguidas às custas de empregos perdidos, lágrimas, medo contido, morte, dores de espancamentos... e que nós, hoje, vendemos por pratos de lentilha, trocamos por um emprego qualquer, mal remunerado, sem garantias de nenhum tipo, mas que pelo menos dê comida pros nossos filhos, a mão-de-obra futura que reproduzimos e educamos... E educamos inclusive e principalmente com nosso exemplo de vida... Você se lembra de quando trabalhar, aprender nosso ofício e levar a profissão a sério, era a melhor garantia de emprego e de salários melhores? Você se lembra de quando havia emprego para todos, ou quase todos, por que os governos investiam em empregos e os patrões se interessavam em investir na produção? E agora... Estamos vendo tudo isso desmoronar. Todo o sofrimento de tantos trabalhadores no Brasil e no mundo, ao longo da História, para conquistar cada mínimo direito... Mínimo, mas que juntos formam o pouco a que cada um de nós trabalhador teve direito... E nossos direitos e nossos salários e nossas condições de vida sempre foram tão pequenos, e tão desrespeitados... Você se lembra de quando não havia sindicatos, e os trabalhadores organizavam associações para se protegerem das adversidades da vida, e essas adversidades eram principalmente a morte por acidente de trabalho ou doenças como tuberculose e outras provocadas pelas péssimas condições de vida dos trabalhadores... E alguns desses se uniam para criar um fundo comum para pagar os enterros dos trabalhadores, que não tinham, literalmente, onde cair mortos? Você se lembra da filhinha de Marx, aquele mesmo, que criou o socialismo junto com Engels, e cuja filha morreu de fome, enquanto o pai analisava as condições de vida dos trabalhadores, escrevia seus livros, tentava modificar o sistema sócio-econômico... E como sempre, como todo trabalhador, braçal ou intelectual, não teve seu trabalho reconhecido? Você se lembra de algum dia na história da humanidade em que patrões não tenham explorado seus trabalhadores, e os trabalhadores não tenham tido que vender sua força-de-trabalho em troca de pão, de uma cabana para morar, do direito de sobreviver e reproduzir a espécie? Você que talvez seja descendente de índios... De negros também... E sabe muitíssimo bem do que estou falando... Eu, apesar de descender "apenas" de europeus brancos, descendo da linhagem dos brancos trabalhadores, dos que sempre foram explorados, dos que morrem de fome se não venderem sua força-de-trabalho... Descendemos, todos nós, dos que têm apenas duas coisas na vida: o corpo para trabalhar e a cabeça para pensar, e nos organizarmos, e lutarmos pelo menos por condições menos absurdas de trabalho. E estão tentando nos retirar cada direito e cada conquista que sofremos tanto para conseguir. Não se esqueça que sua aquiescência é a aquiescência de todos nós... E que sua resistência às pressões é a resistência de todos nós... Por quê quando você resiste, honra a todos os trabalhadores que viveram antes de nós e lutaram por melhores condições de trabalho e de vida não somente deles, mas nossas e de nossos filhos também... Por quê quando você pensa do ponto de vista do trabalhador, e não do patrão, defendendo seus direitos - que já são tão minguados! - você luta também por todos nós que trabalhamos e sustentamos o mundo. Não vamos esquecer quais interesses estão por trás das mudanças da CLT, e que esses interesses não são os nossos, os dos trabalhadores. A Memória também existe para resistir.

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