terça-feira, 25 de novembro de 2008

a infancia de cada um

A infância é o chão sobre o qual caminharemos o resto de nossos dias. Tudo que faremos na maturidade estará em nós a criança com os enganos e os afetos enraizados neste contorno desse "eu" que me fizeram ou propuseram. Misturamos em nós possibilidades de sonhar e necessidades de rastejar, medo e fervor.
Temos de cortar o que eventualmente tem de sufocante. Não podemos alterar o passado. irineu

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

consciência

Se não tivesse que trabalhar tantas horas e ganhar o suficiente para sobreviver, eu poderia botar um pocuo de liberdade no meu bolso e satisfazer alguns desses antigos sonhos enclausurado desde a meninice que já nem sei mais sonhado, naõ pensem que é uma queixa de barriga cheia. É claro que grande parte da minha gente trabalhadora são menos livres do que eu. A diferença é que eles ainda não sabem disso.A liberdade e a independência só existem mesmo quando através da cultura, o indivíduo pensa, sente e decide por si. irineu

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Precisamos De Você.
Aprende - lê nos olhos,lê nos olhos - aprendea ler jornais, aprende:a verdade pensacom tua cabeça.
Faça perguntas sem medonão te convenças sozinhomas vejas com teus olhos.Se não descobriu por sina verdade não descobriu.
Confere tudo pontopor ponto - afinalvocê faz parte de tudo,também vai no barco,"aí pagar o pato, vaipegar no leme um dia.
Aponte o dedo, perguntaque é isso? Como foiparar aí? Por que?Você faz parte de tudo.
Aprende, não perde nadadas discussões, do silêncio.Esteja sempre aprendendopor nós e por você.
Você não será ouvintediante da discussão,não será cogumelode sombras e bastidores,não será cenáriopara nossa ação
...
Privatizado
"Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence."
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Bertold.Brecht - perseguido por pensar

Perguntas De Um Operário Que Lê.
Quem construiu Tebas, a das sete portas?Nos livros vem o nome dos reis,Mas foram os reis que transportaram as pedras?Babilònia, tantas vezes destruida,Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casasDa Lima Dourada moravam seus obreiros?No dia em que ficou pronta a Muralha da China para ondeForam os seus pedreiros? A grande RomaEstá cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quemTriunfaram os Césares? A tão cantada BizâncioSò tinha paláciosPara os seus habitantes? Até a legendária AtlântidaNa noite em que o mar a engoliuViu afogados gritar por seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou as IndiasSòzinho?César venceu os gauleses.Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?Quando a sua armada se afundou Filipe de EspanhaChorou. E ninguém mais?Frederico II ganhou a guerra dos sete anosQuem mais a ganhou?
Em cada página uma vitòria.Quem cozinhava os festins?Em cada década um grande homem.Quem pagava as despesas?
Tantas históriasQuantas perguntas

Bertold.Brecht - perseguido por pensar

Elogio da Dialética
A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.Os dominadores se estabelecem por dez mil anos.Só a força os garante.Tudo ficará como está.Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores.No mercado da exploração se diz em voz alta:Agora acaba de começar:E entre os oprimidos muitos dizem:Não se realizará jamais o que queremos!O que ainda vive não diga: jamais!O seguro não é seguro. Como está não ficará.Quando os dominadores falarem falarão também os dominados.Quem se atreve a dizer: jamais?De quem depende a continuação desse domínio?De quem depende a sua destruição?Igualmente de nós.Os caídos que se levantem!Os que estão perdidos que lutem!Quem reconhece a situação como pode calar-se?Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.E o "hoje" nascerá do "jamais".
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Bertold.Brecht - perseguido por pensar

Aos que virão depois de nósI
Eu vivo em tempos sombrios.Uma linguagem sem malícia é sinal deestupidez,uma testa sem rugas é sinal de indiferença.Aquele que ainda ri é porque ainda nãorecebeu a terrível notícia.
Que tempos são esses, quandofalar sobre flores é quase um crime.Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?Aquele que cruza tranqüilamente a ruajá está então inacessível aos amigosque se encontram necessitados?
É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.Mas acreditem: é por acaso. Nado do que eu façoDá-me o direito de comer quando eu tenho fome.Por acaso estou sendo poupado.(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)
Dizem-me: come e bebe!Fica feliz por teres o que tens!Mas como é que posso comer e beber,se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?se o copo de água que eu bebo, faz falta aquem tem sede?Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.
Eu queria ser um sábio.
Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:Manter-se afastado dos problemas do mundoe sem medo passar o tempo que se tem paraviver na terra;Seguir seu caminho sem violência,pagar o mal com o bem,não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.Sabedoria é isso!Mas eu não consigo agir assim.É verdade, eu vivo em tempos sombrios!
II
Eu vim para a cidade no tempo da desordem,quando a fome reinava.Eu vim para o convívio dos homens no tempoda revoltae me revoltei ao lado deles.Assim se passou o tempoque me foi dado viver sobre a terra.Eu comi o meu pão no meio das batalhas,deitei-me entre os assassinos para dormir,Fiz amor sem muita atençãoe não tive paciência com a natureza.Assim se passou o tempoque me foi dado viver sobre a terra.
III
Vocês, que vão emergir das ondasem que nós perecemos, pensem,quando falarem das nossas fraquezas,nos tempos sombriosde que vocês tiveram a sorte de escapar.
Nós existíamos através da luta de classes,mudando mais seguidamente de países que desapatos, desesperados!quando só havia injustiça e não havia revolta.
Nós sabemos:o ódio contra a baixezatambém endurece os rostos!A cólera contra a injustiçafaz a voz ficar rouca!Infelizmente, nós,que queríamos preparar o caminho para aamizade,não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.Mas vocês, quando chegar o tempoem que o homem seja amigo do homem,pensem em nóscom um pouco de compreensão.
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Brechet

As Boas Ações
Esmagar sempre o próximonão acaba por cansar?Invejar provoca um esforçoque inchas as veias da fronte.A mão que se estende naturalmentedá e recebe com a mesma facilidade.Mas a mão que agarra com avidezrapidamente endurece.Ah! que delicioso é dar!Ser generoso que bela tentação!Uma boa palavra brota suavementecomo um suspiro de felicidade

Bertold Brechet

Acredite Apenas
Acredite apenas no que seus olhos vêem e seus ouvidosOuvem!Também não acredite no que seus olhos vêem e seusOuvidos ouvem!Saiba também que não crer algo significa algo crer!

Bertold Brechet

A Minha Mãe
Quando ela acabou, foi colocada na terraFlores nascem, borboletas esvoejam por cima...Ela, leve, não fez pressão sobre a terraQuanta dor foi preciso para que ficasse tão leve!
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Bertold.Brecht

A Minha Mãe
Quando ela acabou, foi colocada na terraFlores nascem, borboletas esvoejam por cima...Ela, leve, não fez pressão sobre a terraQuanta dor foi preciso para que ficasse tão leve!
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Bertold.Brecht

A Exceção e a Regra
Estranhem o que não for estranho.Tomem por inexplicável o habitual.Sintam-se perplexos ante o cotidiano.Tratem de achar um remédio para o abusoMas não se esqueçam de que o abuso é sempre a regra.

Bertold Brecht

A Cruz de Giz
Eu sou uma criada. Eu tive um romanceCom um homem que era da SA.Um dia, antes de irEle me mostrou, sorrindo, como fazemPara pegar os insatisfeitos.Com um giz tirado do bolso do casacoEle fez uma pequena cruz na palma da mão.Ele contou que assim, e vestido à paisanaanda pelas repartições do trabalhoOnde os empregados fazem fila e xingamE xinga junto com eles, e fazendo issoEm sinal de aprovação e solidariedadeDá um tapinha nas costas do homem que xingaE este, marcado com a cruz brancaë apanhado pela SA. Nós rimos com isso.Andei com ele um ano, então descobriQue ele havia retirado dinheiroDa minha caderneta de poupança.Havia dito que a guardaria para mimPois os tempos eram incertos.Quando lhe tomei satisfações, ele jurouQue suas intenções eram honestas. Dizendo issoPôs a mão em meu ombro para me acalmar.Eu corri, aterrorizada. Em casaOlhei minhas costas no espelho, para verSe não havia uma cruz branca.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

a metaforas

oh! menina que fantasias tanto a realidade, com doces palavras... amor, amor eu vou flutuar um pouco a caminho das nuvens pra fugir um pouco deste meu intenso concreto de realidade! a menina fantasia. fantasias assim,e vou acabar acreditando na flor. irineu

kafka

Carta a um filho

Filho.
Completas hoje dezoito anos.
Vais, daqui por diante, por certo, com o orgulho natural de todo jovem, que já és maior.
Um homem livre, portanto.
Ah, a liberdade!
Sabes o que é a liberdade, filho?
Como? O direito de fazeres o que quiseres?
Não, filho. Liberdade não é isso.
Liberdade é, de fato, um direito que deves sempre defender vigorosamente.
Direito não de fazeres o que quiseres mas sim, o que puderes.
Todos somos livres. Mas atenta:
A liberdade absoluta, filho inexiste.
Exceto, talvez no pensar.
Ninguém – ninguém! –pode limitar o nosso pensamento.
Como os tiranos apreciariam ter o privilégio de confiscar-nos o pensamento!
Podem, sim, quando muito, pela violência, impedir-nos de expressa-lo.
É que têm medo do que pensamos, porque sabem em que e por que pensamos...
Mesmo os pássaros, dispondo de todo o Universo, sabem até onde, com o seu vôo, podem chegar.
Dali não passarão, pois compreendem que se o fizerem ultrapassarão a liberdade que a Natureza lhes conferiu.
O instinto os faz entender que não podem abusar da liberdade.
Se abusarem da liberdade, perdê-la-ão...
É inato neles o sentido da responsabilidade.
És, portanto, filho, um homem livre.
Mas cuida dessa liberdade.
Julga-te maior.
Que é ser maior?
Sabes que a idade não mais se mede, cronologicamente, pelos anos de vida?
Um idoso pode ser, na realidade um menor se a sua conduta perante a sociedade, revelar o que as convenções consideram atitudes irresponsáveis.
No entanto, um menor pode, mentalmente, ser maior, se se conduzir conscientemente, conforme os preceitos ditados por aquelas convenções.
Um menor, em suma, se pode revelar maior.
Um maior pode ser, em realidade, um menor.
Quantos homens, filho, estão plenamente enquadrados num e outro caso!
A questão de idade, no homem, portanto, é muito relativa.
Em vez de maior, filho, procura, sim, ser grande.
Compreende: a grandeza, aqui, não significa opulência, fama, riqueza, poder.
Gostaria –oh, como gostaria!
--que fosses, grande na bondade, em primeiro lugar.
Homem bom, mesmo nos dias terríveis por que atravessa a humanidade, significa esperança, evidencia fé.
Porque o bom é o forte, embora aparentemente não pareça.
O bom é, por formação, o honesto.
Resistirá a corrupção, que é uma forma horrivelmente deformante da maldade.
Conseqüentemente, não corromperá –e não será um mau.
O bom é sábio e, como sábio, sabe que é pela sabedoria que a humanidade encontrará o caminho da redenção.
É por isso, filho, que te aconselho seres grande sobretudo na bondade.
Mas cuida disto; não esperes recompensas.
Bondade é benefício que, em geral, é retribuído com ingratidões.
A humanidade tem sofrido tantas agruras que ainda não aprendeu a receber o bem e retribuí-lo com o próprio bem.
Quando obtém o mau, jamais o esquece... Aprende, pois, filho, desde já, a fazeres o bem sem olhares a quem.
Pouco importa o reconhecimento.
A tua consciência é que te agradecerá, como a consciência do mau é que o acusará e o condenará implacavelmente.
Ser bom, entretanto, filho, não é ser passivo, diante do mundo.
Pelo contrário: é lutar pelo seu aperfeiçoamento.
É ser indomável.
Lembra-te de que na Galiléia nasceu um bom e que a sua luta –luta mansa, sem violência, foi memorável .
Suas idéias aí estão, graniticamente, desafiando os Tempos, buscando e conseguindo, mesmo a duras penas, aperfeiçoar a humanidade.
Foi ele um sacrificado?
Mas se o seu sacrifício foi exemplo imorredouro do indomável deixando para os pósteros demonstração marcante e inequívoca de que sem sacrifícios nada se conseguirá do mundo e nada de bom e permanente a ele se oferecerá!
Portanto, filho, se fores um bom, serás, então, um lutador, um indomável, um maior, um grande, no bom sentido, com vastas possibilidades de te destacares do comum dos homens, continuamente preocupados em derrotar, em humilhar, em destruir, em devorar o semelhante.
Procura vencer o bom e leal combate, sim, mas que as tuas vitórias não constituam desonrosas derrotas para ti e para os que tenham contigo concorrido.
Muitas vezes uma derrota pode transformar-se numa esplendida vitória, porque traz o bem e não o mal.
Finalmente, filho, torna o teu coração imune ao ódio.
Ama.
Ama o mundo. Ama a humanidade.
Ama a liberdade, o estudo, o trabalho.
Ama o próximo como a ti mesmo.
Abomina a guerra. Repele a violência.
Expulsa o medo. Cultiva a coragem.
Luta pela paz entre os homens. Tem fé.
Lembra-te de que é homem, moldado por Deus à sua semelhança.
Não o desfigures.
Não o decepciones.

Do teu
Pai.Texto extraído da contracapa do livro “carta a meu pai” Kafka.

sábado, 8 de novembro de 2008

o vaticano, os cristãos e os transgênicos

Jesus Cristo fez da ceia um sinal privilegiado de sua presença no mundo. Desde então, as comunidades cristãs aprenderam a considerar todo alimento como expressão do dom amoroso de Deus. Isso é herança do judaísmo. Um rabino dizia: “Quem come sem dar graças apossa-se indevidamente de algo que recebeu de Deus. Portanto, esta pessoa não tomou o alimento. Roubou-o”. Uma verdadeira espiritualidade não divide corpo e alma. Jesus ensinou aos discípulos orar ao Pai e incluir na prece do “Pai nosso” a preocupação com o pão de cada dia. A uma irmã que lhe perguntou onde encontrava mais a Deus, a grande mística Santa Tereza respondeu: “nas panelas da cozinha”. A sacralidade do alimento como dom de Deus se expressa na forma sadia de alimentar-se, no cuidado com a vida de todos e no respeito à terra e à dignidade dos seres vivos. Por isso, é de se esperar que pastores das igrejas cristãs, sempre atentos em defender o que chamam de “lei natural”, se mobilizem para lutar contra os alimentos transgênicos, ou seja, grãos vindos de sementes geneticamente modificadas. De um governo - que sirva verdadeiramente ao seu povo e não aos interesses das multinacionais – esperamos uma atitude firme e que não ceda às pressões para abrir o país a este mercado. Será que alguém, em sã consciência, pensa mesmo que alimentos transgênicos são feitos para diminuir a fome dos países pobres? Por acaso, as cinco grandes multinacionais que, no mundo inteiro, controlam toda a produção de sementes transgênicas as produzem pensando em beneficiar os países pobres ou em resolver o problema da fome? Todo mundo sabe que todo e qualquer cultivo transgênico está patenteado. As sementes não podem ser usadas para uma nova semeadura sem pagar os direitos de patente. Além disso, a Monsanto e as outras multinacionais que produzem transgênicos têm patentes sobre a tecnologia “Terminator” : sementes suicidas que não germinam na segunda geração. E elas mesmas fabricam e vendem os produtos químicos agrícolas (agrotóxicos) que envenenam nossos rios, destroem ecossistemas e provocam, em nós e nos animais, doenças que não sabemos como as contraímos. Condicionam a compra do alimento transgênico ao agrotóxico por elas produzidos. É venda casada. Comprou uma coisa tem de adquirir a outra. O lucro das empresas garante venenos para todos os gostos e em todas as etapas da produção: na terra que se cultiva, na semente fabricada artificialmente para ser estéril e assassina e no alimento que vem às nossas mesas. O Doutor Frankeinstein ficaria muito feliz com esta nova versão de sua engenhosidade. Todo ser humano depende de alimento e não pode ser uma comida qualquer. Pensemos nos desequilíbrios da anorexia: a pessoa que não consegue alimentar-se pode até morrer porque a angústia vital lhe impede de ingerir alimentos. Pensemos, ao contrário, em mais de um bilhão de seres humanos que quer comer e não tem. Há também a ansiedade da multidão que hoje faz dieta ou as muitas pessoas que engordam de forma descontrolada. Isso existe mesmo entre a população negra e pobre dos Estados Unidos, como entre os índios do Brasil. Tudo isso revela que não basta alimentar-se. É preciso saber como e por quê. Há vários níveis de fome como graus diferentes de segurança alimentar. A fome não se sacia com qualquer tipo de comida. A saúde só é garantida com um alimento saudável e recebido de forma adequada. Seguir uma dieta significa buscar a forma correta de receber através do alimento a energia de vida neles contida. Como se dará isso se este fluxo de energia vital dos alimentos não existe mais? Ou é exatamente pensado para não passar energia e não comunicar vida e sim lucro a quem vende o alimento e dependência econômica e mesmo morte a quem cultiva e recebe o produto? A “segurança alimentar” só pode significar a preocupação e o compromisso em garantir alimentos com os atributos adequados à saúde dos consumidores. Ou seja, um correto teor nutriente, sem contaminação de natureza química, biológica ou física e nada que possa prejudicar a saúde do povo. Quem vive uma espiritualidade ecumênica procura ir à raiz das questões. Não aceita que se ponha em risco a vida dos seres humanos e a integridade do planeta apenas por interesses econômicos das multinacionais. Elegemos governantes para nos representar. Eles, sem nos consultar, não podem nos substituir nas decisões fundamentais à vida de todos. É estranho um cristão ouvir o ministro pronunciar as palavras de Cristo sobre o pão: “Isto é o meu corpo” e saber que aquele pão é feito de trigo transgênico, produzido com tecnologia “Terminal” suicida e cultivado com agrotóxicos mortíferos. Temos o direito de ver em toda a natureza os sinais da presença de Deus, energia de amor do universo.
* Marcelo Barros, monge beneditino e escritor.

VOTO NULO

O VOTO NULO
o que acontece quando nenhum dos partidos, coligações ou candidatos comungam minimamente com nossas idéias? Coerentemente devemos exercer livremente o direito de anular o voto, ou seja, de dizer que nenhum daqueles candidatos serve para ser meu representante, de minha cidade, do meu estado ou do meu país. Isto não quer dizer, necessariamente, negação do processo, pois o eleito assumirá a responsabilidade da gestão e, poderemos, livremente, fazer-lhe oposição ou aceitar a sua gestão irineu

fF I N A D O S- frei Beto

dia de finados, dos que findaram, os mortos. Será, no futuro, o dia de cada um de nós. A morte clandestinizou-se nessa sociedade que incensa a cultura do prolongamento indefinido da vida, da juventude perene, da glamourização da estética corporal. Nem sequer se tem mais o direito de ficar velhoAs religiões têm respostas às situações limites da condição humana, em especial a morte. Isso é um consolo e uma esperança para quem tem fé. Fora do âmbito religioso, entretanto, a morte é um acidente, não uma decorrência normal da condição humana. Morre-se abundantemente em filmes e telenovelas, mas não há velório nem enterro. Os personagens são seres descartáveis como as vítimas inclementes do narcotráfico. A morte nos reduz ao verdadeiro eu, sem os adornos de condição social, nome de família, títulos, propriedades, importância ou conta bancária. Frei Betto

fernando pessoa

Vem e arranca-me. Do solo de angústia e de inutilidade.Onde vicejo. Apanha-me do meu solo, malmequer esquecido.Folha a folha não sei que sina. E desfolha-me para teu agrado silencioso e frescoVem sobre os mares. sobre os mares maiores.Sobre os mares sem horizontes precisos, vem e passa a mão sobre o dorso da fera. E acalma-o misteriosamente. Ó domadora hipnótica das coisas que se agitam muito! vem cuidadosa. Vem maternal. Pé ante pé enfermeira antiqüíssima, que te sentaste.À cabeceira dos deuses das fés já perdidas.Alguns versos do poema: Dois fragmentos de odes - Fernando pessoa

INTERVALO Quem te disse ao ouvido esse segredoQue raras deusas têm escutado -Aquele amor cheio de crença e medoQue é verdadeiro só se é segredado?...Quem te disse tão cedo? Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.Não foi um outro, porque não sabia.Mas quem roçou da testa teu cabeloE te disse ao ouvido o que sentia?Seria alguém, seria?Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?Foi só qualquer ciúme meu de tiQue o supôs dito, porque o não direi,Que o supôs feito, porque o só fingiEm sonhos que nem sei? Seja o que for, quem foi que levemente,A teu ouvido vagamente atento,Te falou desse amor em mim presenteMas que não passa do meu pensamentoQue anseia e que não sente? Foi um desejo que, sem corpo ou boca,A teus ouvidos de eu sonhar-te disseA frase eterna, imerecida e louca -A que as deusas esperam da lediceCom que o Olimpo se apouca. Fernando Pessoa

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A úncia coisa que segura é dizer PECADO, caso contrário, a própria beleza se contradiz, se enrosca no embelezamento-Freud explica ou complica.

A aranha tece sua teia ao contrário do que muitos pensam as aranhas não são insetos e sim aracnídeos. A teia da aranha serve como armadilha para caçar insetos – virarão alimentos para a aranha. A aranha arranha e devora a mariposa. A mariposa é fascinada pela luz –A luz do fogo da vela a convida. A chama da vela a chama. Chama e a mariposa circula em volta como uma dança. Dança até ser consumida.
A Ninfa –está se formando de corpo de menina num corpo de mulher. Mas é tão encantadora que faz os mundos girar. Gira que gira em sua volta.Ela se vê tão bela (vê a mariposa queimar suas asas na chama da vela) antes do primeiro baile, quando quer ser pura, e ao mesmo tempo tentar todos os homens, é a morte de uma mariposa na chama que ela invoca.
–a menina é uma chama pura.
Ela quer ser uma tentação, mas ela mesma se vê tentada.
É tão bela! Sua própria beleza é um fogo que a tenta.

Quase todas as espécies de borboletas são ativas durante o dia. Muitas espécies de borboletas têm diferentes cores e texturas em suas asas conformando uma beleza incontestável. Já as mariposas geralmente ativas durante a noite atraída por focos de luz esta é uma das diferenças entre borboletas e mariposas. A ninfa tem um pouco de mariposa sem saber e um pouco te borboleta sabendo. Vivemos entre o real e a fantasia. –e já sabemos que se separam no final.

estas miragens de embelezamento feminino que me estonteia o belo é sempre um encantamento

Nada secreta mais segredos que o corpo de uma mulher. Entre a parte semi-aberta insinuava-me aquele vestido desenhando seu corpo. Ouvi dizer que no fim do mundo o Demônio vai se disfarçar de linda mulher.
Venha –que homem não obedeceria?
Estava zonzo e atordoado como quem se perdeu num labirinto.
Sou culpado ou inocente.
A mulher bêbada de tesão. –minha primeira lição de miséria.
Tomar lento o vinho, língua lambendo os lábios, olhos perdidos, dedo vagando pela beira do copo, pensamento indo e vindo.irineu

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Se os Tubarões Fossem Homens
Bertold Brecht
Se os tubarões fossem homens, eles seriam mais gentís com os peixes pequenos. Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais. Eles cuidariam para que as caixas tivessem água sempre renovada e adotariam todas as providências sanitárias cabíveis se por exemplo um peixinho ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma atadura a fim de que não moressem antes do tempo. Para que os peixinhos não ficassem tristonhos, eles dariam cá e lá uma festa aquática, pois os peixes alegres tem gosto melhor que os tristonhos.
Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas, nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a guela dos tubarões. Eles aprenderiam, por exemplo a usar a geografia, a fim de encontrar os grandes tubarões, deitados preguiçosamente por aí. Aula principal seria naturalmente a formação moral dos peixinhos. Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos. Se encucaria nos peixinhos que esse futuro só estaria garantido se aprendessem a obediência. Antes de tudo os peixinhos deveriam guardar-se antes de qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista. E denunciaria imediatamente os tubarões se qualquer deles manifestasse essas inclinações.
Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam guerra entre si a fim de conquistar caixas de peixes e peixinhos estrangeiros.As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixinhos. Eles ensinariam os peixinhos que, entre os peixinhos e outros tubarões existem gigantescas diferenças. Eles anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente mudos e calam nas mais diferentes línguas, sendo assim impossível que entendam um ao outro. Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos inimigos da outra língua silenciosos, seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o título de herói.
Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles naturalmente também uma arte, haveria belos quadros, nos quais os dentes dos tubarões seriam pintados em vistosas cores e suas guelas seriam representadas como inocentes parques de recreio, nas quais se poderia brincar magnificamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos peixinhos nadam entusiasmados para as guelas dos tubarões.A música seria tão bela, tão bela, que os peixinhos sob seus acordes e a orquestra na frente, entrariam em massa para as guelas dos tubarões sonhadores e possuídos pelos mais agradáveis pensamentos. Também haveria uma religião ali.
Se os tubarões fossem homens, eles ensinariam essa religião. E só na barriga dos tubarões é que começaria verdadeiramente a vida. Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixinhos, alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros. Os que fossem um pouquinho maiores poderiam inclusive comer os menores, isso só seria agradável aos tubarões, pois eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores bocados para devorar. E os peixinhos maiores que deteriam os cargos valeriam pela ordem entre os peixinhos para que estes chegassem a ser, professores, oficiais, engenheiros da construção de caixas e assim por diante. Curto e grosso, só então haveria civilização no mar, se os tubarões fossem homens.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

noticias

60% dos americanos estão acima do peso saudável. Os americanos consomem, em média 200 calorias a mais por dia hoje do que uma década atrás o suficiente para acrescentar 9 quilos à silhueta a cada ano.
1 big mac americano contém 600 calorias e fornece 51% da quantidade de gordura recomendada para ingestão diária. Nas filiais brasileiras, essa relação é um pouco melhor.


A cidade de são Paulo produz o equivalente a um prédio de 30 andares de lixo por dia.
Dos mais de 5000 municípios brasileiros, apenas 28 possuíam algum tipo de coleta seletiva em 2004.
A queima de lixo não é uma boa solução, pois libera até 27 metais pesados e gases que geram chuva ácida.

Vários países proibiram a distribuição gratuita de sacola plástica descartável.
Uma família de classe média joga fora, em média 500g de alimentos por dia. Em 20 anos, essa perda equivale a 3.600 quilos. Se 1 milhão de famílias reduzirem pela metade essa quantidade, 90 mil toneladas de comida serão economizadas a cada ano, o suficiente para alimentar 260 mil pessoas nesse período.

Os principais responsáveis pela poluição do ar que causa a morte de 3 milhões de pessoas por ano em todo mundo, são os automóveis. Se você deixar de usar seu carro um dia por semana (considerando um percurso diário de 20 km), deixará de emitir por ano cerca de 440 kg de dióxido de carbono.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

enxaquecas

Azeite de Oliva Extra Virgem
Quem sofre de enxaqueca deve ficar longe de algumas gorduras, deve ficar longe de frituras, mas deve, sem dúvida, consumir outras. Por incrível que pareça, a gordura é muito importante para o funcionamento do organismo a consumirem o azeite de oliva extra virgem, em lugar de outros óleos vegetais, manteiga ou margarina.
O azeite extra virgem tem propriedades antiinflamatórias.
O problema dos outros óleos vegetais comuns é a maneira com que são obtidos. Para extrair o óleo de uma azeitona (oliva), basta espremê-la com as próprias mãos. Faça isso agora mesmo, e veja como suas mãos ficam impregnadas do óleo. O termo extra virgem se dá ao óleo que foi obtido através de uma pressão muito suave, a frio. Após a obtenção deste líquido nobre, impõe-se às azeitonas uma segunda prensa, bem mais forte, mediante temperaturas mais elevadas, a fim de extrair todo o óleo possível. Esse óleo já não é mais extra virgem.
Nosso organismo, nossas células, são lubrificadas com óleos provenientes da nossa alimentação, e seu excelente funcionamento depende da qualidade desses óleos. Ao submeter um determinado óleo a uma pressão e/ou temperatura muito alta, este líquido sofre alterações químicas que resultam na perda das propriedades e poderes benéficos. Pior: ao se incorporarem nas paredes das nossas células, esses óleos alterados resultarão em células alteradas. E hormônios idem, pois os óleos também entram na sua composição.
Com células e hormônios alterados, o mínimo que você pode esperar é uma dor de cabeça!
Esses óleos passam por processos de remoção de clorofila, cálcio, carboidratos complexos, magnésio, além de processos de remoção de ácidos graxos livres, branqueamento (remoção do beta-caroteno e da clorofila), remoção dos odores (perde-se a vitamina E e adicionam-se agentes sintéticos).
A margarina e as gorduras vegetais hidrogenadas também são óleos vegetais alterados. Passam por um processo denominado hidrogenação, no qual um óleo vegetal, líquido, se transforma numa massa sólida ou semi-sólida, totalmente antinatural. Fuja dessas substâncias e ganhará saúde.

pensa que pensa e pensa

"Talvez você seja o único evangelho

que seu irmão possa ler."

Madre Teresa de Calcutá
Esta é uma redação feita por uma aluna do curso de Letras, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco - Recife), e que obteve vitória em um concurso interno promovido pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa.

O ENCONTRO
"Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal e entrou com ela em seu aposto. Ligou o fonema, e ficaram Alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar. Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial e, rapidamente, chegaram a um imperativo. Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto. Começaram a se aproximar, ela tremendo de Vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula. Ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros. Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta. Estavam na posição de primeiras e segundas pessoas do singular. Ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso, a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas.. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história. Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou, e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente!. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino. O Substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva."

um pouco de História

Você se lembra dos quatro trabalhadores de Chicago, em 1886, que foram enforcados pela justiça norte-americana por que ousaram se mobilizar pela redução da jornada de trabalho? E que acabaram dando origem ao 1º de Maio, data, inclusive, que os EUA não comemora como Dia do Trabalhador até hoje? Você se lembra das centenas de mulheres operárias de uma fábrica também em Chicago, que, por ousar reivindicar melhores condições de trabalho foram trancadas pelos patrões dentro da fábrica, que atearam fogo, matando-as por queimaduras e intoxicação? E que deram origem ao 8 de Março, Dia das Mulheres? Você se lembra de Sacco e Vanzetti, os dois imigrantes anarquistas que foram condenados à morte acusados de roubarem e matarem, acusação que caiu por falta de provas, mas mesmo assim foram mortos, como exemplo de que não devemos lutar por nossos direitos, nem ser pobres, nem imigrantes, nem trabalhadores, nem devemos ser... O Outro? Pois fico pensando nisso tudo, e mais ainda nessa semana em que o Congresso está decidindo a "flexibilização" das leis trabalhistas... Fico lembrando desses trabalhadores que morreram reivindicando melhores condições de trabalho, e lembro também de todos os outros, e foram tantos que nem dá pra contar, que sofreram perseguições, que foram presos, deportados, que morreram massacrados, em greves, manifestações, paralisações, reivindicando cada pequeno direito que fomos acumulando ao longo desses mais de dois séculos desde a Revolução Industrial... Férias... Descanso semanal remunerado... 13º salário... Aposentadoria... Licença saúde... Licença gestante... E tantas outras conquistas conseguidas às custas de empregos perdidos, lágrimas, medo contido, morte, dores de espancamentos... e que nós, hoje, vendemos por pratos de lentilha, trocamos por um emprego qualquer, mal remunerado, sem garantias de nenhum tipo, mas que pelo menos dê comida pros nossos filhos, a mão-de-obra futura que reproduzimos e educamos... E educamos inclusive e principalmente com nosso exemplo de vida... Você se lembra de quando trabalhar, aprender nosso ofício e levar a profissão a sério, era a melhor garantia de emprego e de salários melhores? Você se lembra de quando havia emprego para todos, ou quase todos, por que os governos investiam em empregos e os patrões se interessavam em investir na produção? E agora... Estamos vendo tudo isso desmoronar. Todo o sofrimento de tantos trabalhadores no Brasil e no mundo, ao longo da História, para conquistar cada mínimo direito... Mínimo, mas que juntos formam o pouco a que cada um de nós trabalhador teve direito... E nossos direitos e nossos salários e nossas condições de vida sempre foram tão pequenos, e tão desrespeitados... Você se lembra de quando não havia sindicatos, e os trabalhadores organizavam associações para se protegerem das adversidades da vida, e essas adversidades eram principalmente a morte por acidente de trabalho ou doenças como tuberculose e outras provocadas pelas péssimas condições de vida dos trabalhadores... E alguns desses se uniam para criar um fundo comum para pagar os enterros dos trabalhadores, que não tinham, literalmente, onde cair mortos? Você se lembra da filhinha de Marx, aquele mesmo, que criou o socialismo junto com Engels, e cuja filha morreu de fome, enquanto o pai analisava as condições de vida dos trabalhadores, escrevia seus livros, tentava modificar o sistema sócio-econômico... E como sempre, como todo trabalhador, braçal ou intelectual, não teve seu trabalho reconhecido? Você se lembra de algum dia na história da humanidade em que patrões não tenham explorado seus trabalhadores, e os trabalhadores não tenham tido que vender sua força-de-trabalho em troca de pão, de uma cabana para morar, do direito de sobreviver e reproduzir a espécie? Você que talvez seja descendente de índios... De negros também... E sabe muitíssimo bem do que estou falando... Eu, apesar de descender "apenas" de europeus brancos, descendo da linhagem dos brancos trabalhadores, dos que sempre foram explorados, dos que morrem de fome se não venderem sua força-de-trabalho... Descendemos, todos nós, dos que têm apenas duas coisas na vida: o corpo para trabalhar e a cabeça para pensar, e nos organizarmos, e lutarmos pelo menos por condições menos absurdas de trabalho. E estão tentando nos retirar cada direito e cada conquista que sofremos tanto para conseguir. Não se esqueça que sua aquiescência é a aquiescência de todos nós... E que sua resistência às pressões é a resistência de todos nós... Por quê quando você resiste, honra a todos os trabalhadores que viveram antes de nós e lutaram por melhores condições de trabalho e de vida não somente deles, mas nossas e de nossos filhos também... Por quê quando você pensa do ponto de vista do trabalhador, e não do patrão, defendendo seus direitos - que já são tão minguados! - você luta também por todos nós que trabalhamos e sustentamos o mundo. Não vamos esquecer quais interesses estão por trás das mudanças da CLT, e que esses interesses não são os nossos, os dos trabalhadores. A Memória também existe para resistir.

de tanto consumir,acabo me consumindo

A sociedade neoliberal, fundada na competitividade e no êxito egolátrico, favorece o desamor, pois instaura concorrência onde deveria haver solidariedade e, em se tratando de riquezas, aumenta a acumulação engendrando a exclusão. Na impossibilidade de mercantilizar o afeto, ela acena a libido.
Basta observar uma banca de revista, um programa humorístico na TV ou uma peça publicitária. -até para vender sabonete Ali a mulher é reduzida a seus contornos anatômicos, tão desnuda de roupas, quanto de princípios, idéias e valores. Mero objeto descartável, cujo realce promove uma deseducação do olhar, de tal modo que passa a ser vista como um atraente naco de carne exposto no açougue virtual.
Essa cultura da glamourização das formas, que enriquece as academias de ginástica e os cirurgiões plásticos que se prestam aos caprichos da vaidade, deteriora as relações de alteridade. Mulheres e homens que não correspondem ao modelitos imperantes são marginalizados, condenados a purgar seus complexos no limbo dos que não merecem afeto por não terem suficientes atrativos. Pedófilos, tarados, estupradores e assassinos de mulheres são regados pelo caldo de cultura dessa sociedade neoliberal que só reconhece os valores do mercado financeiro, pois troca o coração pelo bolso e suprime a ética em nome da estética. E o mais grave é que insistem em nos convencer que liberdade de expressão é a TV invadir os nossos lares, intoxicando, crianças com pornografia e violência