quinta-feira, 5 de agosto de 2010

AMOR é de todo dia, escrevi pensando na minha tia Maria

Por força da distância, as visitas são raras, o que nos dilacera, e é preciso dizer, aprendi a gostar e admirá-la e com o passar do tempo, sua atenção, conversas e atenção foram uma diáfana para o meu caminhar e sempre bate uma vontade de estar mais perto até para poder ouvir o cricrilar, o gorjear, o pisar na relva e sem pudor abraçar uma árvore energizar e acompanhar a gestação das laranjeiras que exalam gostoso perfume de suas flores e depois nos alimentam com doces sabores de seus frutos, assim como as demais do pomar.

Os incautos e condicionados passam sem notar e mesmo sabendo que somos alhures de nós mesmos. E, me inquieto e fico lânguido de amargor.

Maria o nome que principia na palma da minha mão como diz uma canção que não toca no rádio. Maria é o nome que ocupa o primeiro lugar mesmo longe do altar, é bíblico, forte, muita energia, responsável com seus compromissos, estou enleado com o seu ser. Rezo para que mesmo com a idade e os problemas adjacentes não fiques puída e nem se deixe lacerar pelas dores do mundo. E que mantenhas a força e a sabedoria para derrotar qualquer mal pressagio que possa vir dilacerar e trazer abrolhos, pedras, tropeços em seu caminhar. E que estas minhas palavras sejam uma oblação que faço aos querubins pela sua devoção.

Lembrar de você é como solfejar em noites de lua cheia, mesmo em tempestades com fortes trovoadas.

E mesmo por conta do tempo que nos atinge, mapeia e desnorteia a todo o momento e alguns outros dizem da idade avançada é meio abiótica, já nem estava notando a força do pensamento que fugia ao entendimento de quem era eu, diante dos olhos seu.

Fiquei paralisado sem entender onde andava, ou se perdeu aquela forte energia, que sempre me recebia com abraços esfuziantes e, eu abetumado agora lhe perguntava como se sentia, ela cabisbaixo, balbuciando as palavras abichornada parecia que nada dizia, ainda assim, melíflua me sorria.

Seus pensamentos inóspitos que não entendiam, o porquê não me ouvia, e, eu pensava: não me ouvia porque já não entendia? Sua surdez paralisava as palavras que em alto som eu falava e ao pé do seu ouvido se calavam; e, já sem prazer em pronunciar nenhuma história inefável porque ela já não compreenderia, ela ainda sem entender os porquês, abraçava-me na sua agonia. Suas mãos tremulam cheias do presente no passado amassado que me acalentaram e alimentaram e hoje fracas de tanto amassar a massa, cozinhar o pão, tricotar o algodão, se iludir na armadilha da carne pura e alimentar o sonho dizer-me muitas vezes: Deus te abençoe nas benções que eu pedia e ainda as carrego por onde eu caminho no meu dia-a-dia.

3 comentários:

Aparecida Brasileiro disse...

Que encantar de poesia.
Belo saber o como as palavras, os atos do passado produzem uma narrativa de memória e nos fazem mais vivos.
São cantos de um conto sem amarras e que só estão presentes nas palavras destes poetas anOnimos deste tempo passado que só têm a nos adjetivar.
Como sempre poeta, belissimas metáforas

Anônimo disse...

legal o novo lay

Ani Ohevet Otacha disse...

Lindo, amei...