quinta-feira, 20 de outubro de 2011

do livro os meios eletronicos e a educação autor: waldemar setzer

O aparelho de TV e a percepção.




A televisão

A televisão é comumente um aparelho baseado num tubo de raios catódicos.nele um filamento é aquecido, formando a sua volta o que se chama de nuvem de elétrons.

A imagem é formada de fato na retina, pela sua retenção luminosa, contrariamente a objetos observados pela visão.

Cada imagem é formada 30 vezes por segundo.

A retina tem cerca de 150 milhões de células sensíveis à luz. Assim, não é possível distinguir-se a expressão de uma pessoa se ela está focada por inteiro.

Por isso nas novelas e telejornais somente o rosto é focado- expressão da pessoa é fundamental na transmissão.

O telespectador

O telespectador está fisicamente inativo. Dos seus sentidos trabalham somente a visão e a audição, mas de maneira extremamente parcial – por exemplo os olhos praticamente não se mexem

Os pensamentos estão praticamente inativos; não há tempo para raciocínio consciente e para fazer as associações mentais já que os dois são muitos lentos – o eletroencefalograma e a falta de movimentos dos olhos de uma pessoa vendo televisão indicam um estado de desatenção, de sonolência, de semi-hipnose.

O piscar da imagem, o ambiente em penumbra e a passividade física do telespectador , especialmente seu olhar fixo , fazem com que o cenário seja semelhante a uma sessão de hipnose.

Ainda há a atividade interior dos sentimentos. É na realidade a única atividade externa e interna do telespectador. Por isso os programas tentam sempre causar um impacto nos sentimentos: novelas com conflitos pessoais profundos , esportes perigosos e cheios de ação e a tão falada violência.

Tudo isso significa que o telespectador está num estado de consciência que tem os animais quando não são atraídos por uma atividade exterior como caçar, prestar atenção um possível perigo, procurar alimentos, etc.

O estado de sonolência do telespectador é muito conhecido entre os diretores de imagem. Por isso eles sempre produzem imagens que mudam constantemente: se ela ficasse parada, todos adormeceriam.

Essa mudança constante de imagens e a excitação necessária dos sentimentos fazem com que tudo que a televisão transmite seja transformado em um show. Com isso, quase tudo na vida se transformou num show; a política, a religião, a educação, etc.

Na leitura, é preciso produzir uma intensa atividade interior: num romance, imaginar o ambiente e os personagens; um texto filosófico ou cientifico, associar constantemente os conceitos descritos. A tV, pelo contrário, não exige nenhuma atividade mental: as imagens chegam prontas, não há nada pra associar. Não há possibilidade de pensar sobre o que está sendo transmitido, porque as velocidades das mudanças de imagens , de som e de assunto impedem que o telespectador se concentre e acompanhe a transmissão conscientemente.

A TV e a Educação.

De tudo que foi visto, pode-se concluir que a TV não tem praticamente nenhum efeito educativo. Educação é um processo muito lento. A educação é um processo de caráter contextual , mas a TV, como meio de comunicação de massa, está quase sempre totalmente fora do contexto do espectador.

O ponto mais negativo, porém, da televisão com relação à educação é que esta exige atenção e atividade do estudante, sobretudo quando se pensa que a educação deveria ter como uma das suas principais metas desenvolver nas crianças e nos jovens a capacidade de imaginar e de criar mentalmente. Mas a televisão a televisão faz exatamente o contrário : o constante bombardeio de milhões de imagens faz com que o telespectador perca a habilidade de imaginar e criar.Isso é principalmente preocupante com crianças e jovens , que estão desenvolvendo suas habilidades.

Pode-se concluir que a televisão pode ser empregada como meio de condicionamento, mas não educação. Por isso existe um casamento perfeito entre televisão e propaganda para esta, o estado ideal do consumidor é o de absoluta semiconsciência, porque assim não existe a crítica.Assim a televisão representa em muitos aspectos a antítese da educação.

Os jogos eletrônicos

Diferente do que acontece com a televisão, o conjunto jogo-jogador é um circulo fechado, ou seja, o que acontece na tela – o que a máquina faz- depende parcialmente das ações do jogador. Assim, o jogador não está fisicamente passivo.Mas a sua atividade é muito limitada.. hà uma outra semelhança com a TV: o pensamento consciente não está ativo. Na TV, o telespectador estava passivo sem pensar; no jogo eletrônico, o jogador está ativo num espaço extremamente limitado de movimentos, mas também sem pensar. Em outras palavras, o jogo impõem ações automáticas. Com isso, torna-se muito claro por que crianças têm mais facilidade e mais sucessos com essas máquinas; elas não tem ainda o seu pensamento e sua consciência tão desenvolvidos como os adultos; esse desenvolvimento torna mais difícil a eliminação do pensamento quando é preciso exercitar uma ação.

Finalmente, como na TV, os sentimentos estão ativos mas restritos ao que eu chamo de “sentimento s de desafio”. São eles que atraem o jogador. Em ambos os casos eles são artificiais, ou seja, não tem relação com a realidade da natureza e são incentivados desde o exterior. Compare-se com sentimentos despertados pela leitura de um romance: eles são baseados em uma criação interior( a representação mental com a imagem do personagem ou da situação). Ou com a visão de uma pessoa alegre ou sofrendo, em que existe a realidade da alegria ou do sofrimento alheios. No caso do jogo, o sentimento é enfrentar o desafio, ganhar da máquina.

É interessante notar que reações automáticas são características de animais e não de seres humanos adultos. Em geral, o ser humano pensa antes de fazer algo, examinando, por meios de representações mentais, as conseqüências de seus atos. O jogo eletrônico animaliza o jogador.

O jogo eletrônico e a educação.

Um dos mais importantes objetivos da educação é desenvolver lentamente a capacidade de tomar atitudes conscientes. Os animais agem sempre seguindo seus instintos e condicionamento, mas sers humanos não. Os jogos eletrônicos vão contra esse objetivo da educação e produzem uma “animalização” do ser humano; isso é contrário a um dos objetivos supremos da educação, que é tornar o jovem mais humano e menos animal.

Como no caso da TV, não h´pa contexto no jogo. Todos os jogadores são tratados da mesma forma. Dessa maneira, o jogo vai contra o ideal da educação de produzir indivíduos diferenciados. Por outro lado, os jogos condicionam o jogador a executar os movimentos limitados que o fazem ganhar mais pontos. Um dos ideais da educação deveria ser formar indivíduos que possam agir em liberdade, procurando atingir as metas que eles mesmos se propõem, e não agir de maneira condicionada.

O jogador aprende a fazer algo muito especializado. Mas o que aprendeu somente se aplica no jogo, não pode ser utilizado na vida prática diária. No entanto, numa situação de estresse, de consciência abafada, o jogador pode reagir como fazia no jogo, mas tratando o real como artificial, o que é um grande perigo, pois são duas coisas completamente diferentes. Nesse sentido ele é muito pior do que a TV. Esta grava no subconsciente do telespectador todas as imagens e situações vistas; o jogo eletrônico, além dessa gravação, ainda treina o jogador a executar certas ações.

Um comentário:

Jane disse...

Olá Irineu!
Vim retribuir a visita!
Gostei do seu texto auto descritivo no "quem sou".
Abç,
Jane